Porque todas as grávidas deveriam tomar vitamina D

A vitamina D era até à pouco tempo subvalorizada na gravidez. Hoje muitos médicos recomendam que se comece a tomar antes de engravidar pois pode prevenir complicações da gravidez e parto, como pré-eclampsia, diabetes gestacional e parto prematuro.

A vitamina D é para mim um dos nutrientes mais importantes durante a gravidez e primeiros anos de vida. Ainda mais importante do que outrora porque cada vez é mais deficitária nos humanos modernos da época pós-revolução industrial do século XIX, em Portugal talvez mais após a segunda guerra mundial. E porquê? Os nossos antepassados, como as nossas trisavós, passavam mais horas ao ar livre, nos campos agrícolas, na praia ajudando os homens da pesca, nas lides diárias de ir buscar água ou lavar a roupa.

Se a vitamina D pode ser produzida por exposição solar, não é preciso ser cientista para entender que elas teriam níveis muito superiores aos das mulheres dos dias de hoje, pois deixaram de ter uma vida ao ar livre para viver dentro de casas, trabalhar dentro de edifícios, ir às compras em shoppings.

  

Que implicações poderá ter na reprodução e qual a dose ideal?

Muito estudos sugerem que a dose recomendada de 200 UI para grávidas e mulheres que amamentam não está adequada e precisaria de ser revista. Dr. Hollick e a sua equipa, observaram que 76% das mulheres grávidas que tomavam 400 UI em suplemento além de ingerirem dois copos de leite por dia contendo 600 UI, sofriam de deficiência na altura do parto. Este médico endocrinologista e investigador comenta que, na sua opinião, as mulheres grávidas deveriam ingerir por dia entre 1400 e 2000 UI para manter os níveis de 25-vitamina D acima dos 30 nanogramas por mililitro.

 

Os embriões humanos têm receptores para a vitamina D. A sua deficiência é um factor de risco para o crescimento do feto, o metabolismo do cálcio, desenvolvimento do cérebro e das funções psicológicas. Algumas psicoses na vida adulta parecem associadas a níveis baixos de vitamina D durante a gravidez.

 

Vitamina D e Esclerose múltipla

Não existe relação provada entre a esclerose múltipla e a vitamina D, mas a distribuição geográfica mundial mostra que ela surge mais nos países onde há menos sol ou mais desenvolvidos. No entanto, níveis baixos de vitamina D durante a gravidez e primeiros anos de vida prejudica o desenvolvimento de vasos sanguíneos saudáveis podendo surgir bloqueios ou estreitamentos dos mesmos ou predispor para tal. Esta é uma condição que parece estar subjacente a pelo menos alguns tipos de esclerose múltipla. É muito provável que baixos níveis de vitamina D na gravidez e primeiros anos de vida possam também aumentar o risco de esclerose múltipla na fase adulta, como já se observou em relação a algumas psicoses. Brevemente noutro artigo, desenvolverei este tema com mais detalhe.

 

Imunidade

Durante a gravidez, esta vitamina vai participar no correto desenvolvimento do sistema imunológico. Segundo o Dr. Hollick, níveis baixos tanto na mãe como no feto, estão associados a maior risco de peso baixo à nascença e desenvolvimento de doenças imunológicas como diabetes tipo 1. Um estudo publico em 2009 no Clinical and Experimental Allergy mostrou que a ingestão de vitamina D era inversamente proporcional à ocorrência de asma e rinite alérgica em crianças com menos de 5 anos de idade. Diversos estudos também mostraram que os filhos de mulheres que ingeriram bons níveis de vitamina D na gravidez tinham menos infeções respiratórias.

A Dr. Lisa Bodnar, e a sua equipa, numa publicação de 2014 referia uma maior susceptibilidade para infecções durante a gravidez em mulheres com baixos níveis de vitamina D.

 

Vitamina D pode prevenir Pré-eclampsia

Esta condição de causas ainda desconhecidas é responsável por partos prematuros e podem levar à morte da mãe e do bebé. Os sintomas principais são a elevação da pressão arterial, mãos e cara inchados, dores de cabeça, alterações da visão e proteínas na urina.

A Dr. Lisa Bodnar da Universidade de Pittsburgh, numa investigação, verificou que a pré-eclampsia era 5 vezes superior em mulheres com níveis baixos de 25-vitamina D. Acrescentou que mesmo com a dose atual recomendada às grávidas a deficiência mantinha-se, acreditando que a quantidade não é adequada para esta etapa da vida.

 

Vitamina D e Cesarianas

Vários estudos associam níveis baixos de vitamina D com aumento de cesarianas. Merewood e Bauchner referiram que a probabilidade era 4 vezes superior em mulheres com níveis baixos. Qual a possível explicação? A vitamina D é muitíssimo importante à força muscular e os músculos usados no parto podem não ter a força suficiente para fazer progredir o parto. Esta é a hipótese mais comentada em estudos. Outra possibilidade que se comenta é que poderá intervir no alargamento do canal do parto.

 

Diabetes gestacional

Outros problema que afeta algumas mulheres grávidas é a diabetes gestacional. Diversas meta-análises (estudos científicos) demonstram relação com os níveis baixos de vitamina D. As células produtoras de insulina no pâncreas (células beta) contêm receptores de vitamina D e há evidência que ela influi na secreção e sensibilidade à insulina. Num estudo randomizado, o aumento da suplementação de vitamina D aumentou a sensibilidade à insulina fazendo-a baixar no sangue.

 

Como em todos os problemas de saúde, nunca existe apenas uma causa mas um conjunto de circunstâncias que levam a um desfecho. Não vamos achar que a vitamina D é o santo Graal e vai prevenir tudo. Mas deveria-se subir as doses atuais, pelo menos para valores de 1400 a 2000 UI. Porque recomendar 200 UI quando sabemos que até 10.000 UI por dia é considerada segura?

Dentro dos nutrientes mais relevantes a uma boa gravidez a vitamina D tem seguramente um lugar de destaque.

 

Fontes: Project. Am. J. Epidemiol. 2014;179:168–176. J. Clin. Endocrinol. Metab. 2009;94:940–945. Nutrients. 2018 Jul; 10(7): 867.

Anterior
Anterior

Vitamina D e Cancro da mama. Existe relação?

Próximo
Próximo

Interações entre suplementos e quimio/radioterapia