Interações entre suplementos e quimio/radioterapia
Na luta contra o cancro da mama, há alimentos que são aliados do tratamento, mas também suplementos, plantas e infusões que não deve consumir. Este artigo revela-lhe quais são!
Consumir certos produtos naturais diminui o cansaço provocado pelos tratamentos oncológicos e protege o sistema imunitário, benefícios que já são reconhecidos pela medicina convencional. No entanto, alguns desses produtos podem interferir com os tratamentos oncológicos, alterando a sua eficácia. O centro Mama Help, cuja missão é a melhoria da qualidade de vida de doentes com cancro da mama, realizou, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, uma sessão de esclarecimento pública para evitar as más práticas no uso de produtos naturais durante os tratamentos.
Com a ajuda do especialista em naturopatia André Dourado e de Maria João Cardoso, cirurgiã da mama, aprenda a fazer as escolhas certas no que se refere a suplementos nutricionais e a alimentos que deve privilegiar e a outros que não pode, de todo consumir. Para evitar riscos desnecessários, informe o seu médico sobre os produtos naturais, suplementos, chás ou alimentos que consome para melhorar a saúde. Consoante a composição e dosagem, alguns podem interferir nos tratamentos contra o cancro da mama:
Alimentos que podem interferir nos tratamentos
Suplementos de soja
Inúmeras pesquisas comprovaram que uma dieta rica em soja, ao longo da vida, pode prevenir o cancro da mama, bem como diminuir a perda óssea e cognitiva, após a menopausa. No entanto, revela André Dourado, «em tumores sensíveis a estrogénios, os suplementos de soja podem ser prejudiciais, alterando a eficácia dos tratamentos anti-hormonais, como o Tamoxifeno e os inibidores da aromatase». Maria João Cardoso lembra, contudo, que «quando a soja é ingerida através dos alimentos ricos nessa substância não consegue interferir, pois as concentrações de fitoestrogénios são mínimas».
Suplementos antioxidantes
Este tipo de produtos, à base de vitamina C e E ou selénio, entre outros, não deve ser usado durante os tratamentos oncológicos. Embora estes antioxidantes, quando consumidos através dos alimentos, não atinjam as quantidades necessárias para interferir com o organismo e as terapêuticas, o naturopata revela que, «em suplementos, podem proteger e favorecer o crescimento das células cancerígenas, impedindo a sua destruição».
Plantas medicinais chinesas
Muito utilizadas em suplementação naturopata para reduzir os incómodos da menopausa, André Dourado indica que «os produtos à base de yam e dong quai, salvia, cimicifuga, anho-castos podem prejudicar o efeito da terapia hormonal e mesmo da quimioterapia, no cancro da mama. Não use estas plantas, durante os tratamentos oncológicos, sem consultar um especialista», adverte.
Suplementos de ferro
Em excesso, podem ter um efeito adverso durante os tratamentos oncológicos. Não tome sem consultar um especialista. Os alimentos ricos em ferro não estão contraindicados.
Suplementos de ginseng
São muito utilizados para combater os efeitos do cansaço intelectual e sintomas da menopausa. No entanto, interage com a quimioterapia, podendo causar insónias, tremores e cefaleias.
Toranja
É de evitar. Poderosa fonte de vitamina C, a toranja não deve ser consumida por quem está a realizar quimioterapia, pois interfere diretamente com a ação de muitos dos citostáticos, fármacos que inibem o metabolismo das células que são utilizados no tratamento das neoplasias. «Esta fruta bloqueia a CYP3A4 e, com menor impacto, outras CYP, enzimas necessárias para que os fármacos sejam transformados no organismo. O bloqueio da enzima pode aumentar a toxicidade dos fármacos, uma vez que aumenta a sua concentração no organismo», explica André Dourado.
Embora outros citrinos também bloqueiem as mesmas enzimas, seria necessário ingerir uma quantidade exagerada para terem o mesmo efeito da toranja. «O único risco de consumir muito limão, laranja, ananás ou abacaxi é o aparecimento de aftas ou de feridas na boca durante o tratamento», alerta Maria João Cardoso. Uma consequência desagradável que pode «ser prevenida com bochechos de bicarbonato de sódio», refere ainda.
Infusões
Não tome infusões de hipericão (Erva-de-são-joão), de casca de citrinos, de anis e de funcho. Além de interferirem com a medicação e a quimioterapia, aumentam a sensibilidade da pele às radiações durante a radioterapia.
Alimentos aliados do seu tratamento
Apesar de não poder ingerir alguns ingredientes, em contrapartida existem outros que deve privilegiar para acelerar os efeitos do seu tratamento:
Linhaça
De acordo com André Dourado, existem muitas dúvidas sobre os efeitos das sementes de linhaça, mas nenhum estudo provou que esta substância natural fosse prejudicial durante os tratamentos oncológicos. «Há algumas investigações que demonstraram que a lenhina e outros componentes presentes na linhaça ajudam a diminuir o risco de cancro da mama e podem ajudar, inclusive, em doentes que tomam tamoxifeno», adianta. Por ser uma boa fonte de fibra, é muito benéfica para o funcionamento intestinal.
O naturopata aconselha «utilizar a linhaça para evitar a obstipação, durante a quimioterapia». Maria João Cardoso acrescenta ainda que «o óleo de linhaça tem elevados índices de ómega 3 e 6, muito importantes como antioxidantes e protetores celulares». A linhaça em sementes ou moída pode ser adicionada a cereais de pequeno-almoço, iogurtes, sumos e batidos, sopas e saladas e à massa de preparação para bolos e pão.
Brócolos, couve-flor e outras crucíferas
Ingerir cerca de 200 gramas diários de brócolos, couve-flor, couve-de-bruxelas ou outras crucíferas ajuda a manter os níveis hormonais equilibrados. Como explica André Dourado, «as suas propriedades anticancerígenas justificam-se pela presença de Indole-3- Carbinol (I3C), o fitonutriente sulfuroso que confere o sabor acre a estes alimentos».
Também disponível em suplementos, esta substância «ativa tudo de bom no organismo e não tem qualquer efeito negativo conhecido nas doses habitualmente ingeridas na alimentação diária». Para não perder as suas propriedades, «as crucíferas devem ser confecionadas ao vapor ou em sopa e nunca aquecidas no microondas, pois as radiações anulam as propriedades do Indole-3-Carbinol», recomenda o especialista.
Cenoura, abóbora e manga
Os alimentos ricos em vitamina A e betacaroteno (como cenoura, abóbora, manga, papaia) protegem a pele dos malefícios do sol, mantendo a derme, o cabelo e as unhas hidratadas. Com um efeito semelhante, também irá proteger das radiações do tratamento. «Comer, por exemplo, cenouras alguns dias antes das sessões de radioterapia pode exercer uma ação protetora na pele contra as queimaduras pelo antagonismo que estes alimentos exercem aos radicais livres produzidos pelas radiações na pele», defende André Dourado.
No momento de ingerir estes vegetais, prefira comer cenouras em sopas, sumos naturais ou ralada em saladas. Quando cozida, perde algumas das suas propriedades na água. Nesse caso, guardo o caldo para usar em sopa ou para cozer arroz. Se é adepto de sumos naturais ou bebidas depurativas, também pode usar esta água.
Texto: Fátima Lopes Cardoso (Fundação Champalimaud) com André Dourado (naturopata do centro Mama Help) e Maria João Cardoso (cirurgiã da Fundação Champalimaud e presidente do centro Mama Help)
Fonte: sapo, revista prevenir